Mestre-grafiteiro há mais de 30 anos encanta Coxim com sua arte e histórias de vida

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Por  Ariel Albrecht

Em Coxim, assim como também em boa parte do MS, incluindo a capital, Campo Grande, se alguém falar no nome de Fernando da Silva Alves, talvez ouça-se apenas a estridulação dos grilos com seu  “cri – cri – cri” tão característico pra essas bandas de cá, mas experimente mencionar o carinhoso apelido de “Urso” (ou “Ursinho” para os mais íntimos) que você vai notar a satisfação, as histórias contadas e risadas que aparecerão no mesmo instante sobre este artista tão emblemático e importante para o grafite em Mato Grosso do Sul.

Ursinho trilhou carreira ainda na adolescência trabalhando como cartazista em supermercados da capital paulista, mas foi no grafite onde se encontrou enquanto artista de rua, grafiteiro, adepto da cultura hip-hop que estourou no Brasil na década 90, incentivado pelos amigos que admiraram sua arte desde seu primeiro desenho, o mago Merlin.

O Hip Hop no Brasil despontou na periferia de São Paulo e desenvolveu-se ao longo dos anos 80, mas tornou-se popular somente na década de 90, sendo o grafite uma das principais artes, chegando logo às capitais e cidades maiores do interior do país.

Urso peregrinou em busca de trabalho, conhecimento e oportunidades por várias cidades brasileiras durante sua jornada, vivenciando experiências e conhecendo culturas que ajudaram a compor seu estilo artístico, fortemente ligados às paisagens e a cultura regional pantaneira, como araras, onças-pintadas, tuiuiús, canoas e toda sorte de iconografia histórica e cultural do povo de Mato Grosso do Sul.

Uma de suas histórias mais memoráveis, contam os amigos, foi quando se espalhou a notícia acerca de sua morte. E foi assim mesmo. Correu na “rádio peão” que o querido amigo Ursinho havia morrido em Campo Grande, que há tempos estava mal e havia dado seu último suspiro numa cama de hospital.

Conta Ariel, conhecido de Urso desde a adolescência, e também sabedor do fato inusitado, que ficou incrivelmente surpreso ao encontrar Ursinho andando de bicicleta pelas ruas de Coxim depois de alguns anos da notícia de seu suposto falecimento. “Pisquei os olhos com força para ver se estava enxergando bem, mas era ele mesmo, e fiquei muito feliz e até emocionado de saber que o cara estava vivo…”, conta o amigo, que relata ter sabido notícias e histórias de Urso por várias cidades por onde passou. “É uma lenda viva, conta Ariel…”, depois de uma grande risada.

Em Coxim, onde vive atualmente, Ursinho é frequentemente visto em companhia de amigos pelas praças e outros logradouros públicos da cidade, sempre em busca de um trabalho aqui e outro ali para se manter e, ainda por cima, fazendo o que gosta, o grafite. Suas artes estão presentes em vários comércios da cidade como casas de shows, oficinas, lava-jatos, escolas, academias e até residências, entre diversos outros.

Urso conta que passou grande dificuldade durante a Pandemia COVID-19, e que antes disso foi vítima de um AVC, mas comemora que tudo já passou e agora já pode trabalhar mais tranquilamente, tendo recentemente realizado o sonho de ministrar aulas numa oficina de transmissão de saberes em grafite para internos de uma comunidade terapêutica em Coxim da qual também fez parte.

Em conversa com a nossa redação, ele confidenciou que atualmente está elaborando projetos para concorrer aos editais da Lei Paulo Gustavo de incentivo à cultura em Mato Grosso do Sul com a ajuda de amigos e outros profissionais admiradores de sua trajetória artística, e que, se aprovados, trarão agradáveis surpresas à população de Coxim e região. “É esperar pra ver..”, finaliza ele.